Muffys, não Muffins!!!

A viagem em busca do título (perfeito) para um blog pode transformar- se numa verdadeira expedição pelos recantos mais íntimos das nossas inspirações e das nossas memórias, e não é, nada mais nada menos que a tentativa de responder à pergunta: o que é que me inspira? Iniciei esta viagem pelas memórias. Da infância. Da casa da tia Julieta em Tavira e do cheiro a figos, a amêndoas e de trepar à alfarrobeira com os primos. E como não há nenhum algarvio que não tenha um pezinho em Marrocos vagueei pelo Oriente, pelos perfumes e aromas que nos deixaram em herança ( para além das mouras encantadas!). E do Oriente, da Índia, veio o meu sonho mais sonho, veio o amor verdadeiro (... e o tempero da sogra!). E foi desta magia oriental que nasceram as minhas inspirações que têm (por coincidência) alcunha de guloseima: Muffy (diminutivo carinhoso de nome de pestinha), quase tão docinha como um muffin, mas muito, muito mais apimentada; e Brownie, tão docinha, tão apaixonada por chocolate que o tom da sua pele quase reflecte o tom dourado da guloseima. São elas que me inspiram e me incentivam a ser feliz todos os dias! Muffy e Brownie!



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Após terem- me chegado aos ouvidos rumores de leitores queixosos e saudosos que acham insuportável a minha ausência (a última vez que contei...eram...hmmm...1!), caí em mim! Sim , porque detesto carregar a responsablidade do sofrimento alheio e porque acho que estou, finalmente, decidida.

A escrita para mim é, de facto, essencial. É a calha por onde dou escoamento a tudo aquilo que fervilha dentro de mim mas que não se coaduna com o perfil diário da mãe de família, dona de casa avassaladoramente responsável e ocupada e, empregada (mais ou menos) exemplar.

No entanto, não tenho coragem de escrever quando não tenho certezas. Ou quando o fervilhar de emoções e dúvidas é tal que fico, literalmente, sem saber de que terra sou...ou melhor para que terra vou.

E foi isso que se passou desde o meu último contacto: estive a escolher paixões. Como quem separa o feijão bom daquele que foi atacado pelo gorgulho. Sim, é isso, estive a limpar o meu espírito do gorgulho...

Provavelmente, aquilo que se passa comigo seria de fácil rotulagem por um psicólogo: crise de meia idade ( atenção, que fique bem claro:SÓ TENHO 33!, não é bem meia idade, é ligeiramente menos que meia idade)! Ou seja, aquela altura da vida em que se poderia pôr o título: OU SIM OU SOPAS! Ou te dedicas àquilo que realmente te apaixona, ou mentaliza- te que comerás para sempre a sopa da dúvida, amarga com o sabor de sonhos por concretizar e morna (nunca fui capaz de engolir coisas mornas.É que não passam!...prefiro arrancar a pele da garganta).

Uma vida morna foi coisa que nunca quis! Nunca sonhei para mim um plano daqueles que soa a template do windows,  a comida mastigada e pronta a engolir : estudar;empregar- me; casar; ter filhos; trabalhar e, simultaneamente dar um empurrão aos miúdos no processo de crescimento e prepará- los para uma vida igual à minha, ter netos que irão alimentar o sistema que eu mesma alimentei, morrer com a sensação de que cumpri o meu papel na cadeia.

De tudo isto, as únicas coisas que quis para mim foi o Amor e suas inevitáveis consequências: os filhos. Mas sempre soube, e quando digo sempre, foi mesmo sempre, que a vida teria de ser mais que isto.  Ao início, tinha, como todos nós, a ilusão de que a minha missão era grandiosa e iria afectar a qualidade de vida de toda a população mundial.

Depois, esborrachei- me contra a dura realidade das contas para pagar e das bocas por alimentar e transformei- me numa roda dentada do mecanismo social. E pronto, lá veio a crise de meia idade para enferrujar uma máquina tão bem oleada. Mas é só isso que basta, que uma das pequenas peças falhe para imprimir uma mudança a nível geral.

Desconfio que o meu papel será intervir em duas das esfera que considero basilares na vida humana: as crianças e a saúde que, para mim, está inteiramente alicerçada na alimentação.

As crianças:

Uma das minhas resoluções para 2011 foi fazer uma brusca inversão de marcha na forma como estava a conduzir a educação das minhas filhas. Que não era educação! Era dar uma mãozinha para que não crescessem com fome e sem afecto! Mas educação ( apesar do afecto ser um passo de gigante na construcção de bons seres humanos) está longe de ser apenas isso! Educação é munir as crianças de instrumentos racionais e emocionais para que, uma vez adultos, consigam escapar à engrenagem desta sociedade e serem, eles próprios veículos de mudança. Ou pelo menos, terem os meios para escolherem., em consciência, que destino dar à sua existência no mundo.
Esta mudança implica que, também eu enquanto mãe e educadora, altere a minha forma de me relacionar com elas. Significa que, pelo menos ao fim de semana, ponha de parte tudo aquilo que povoa a minha existência de fada do lar (roupa, pó, loiça, cozinha) e me dedique, inteira, a mostrar- lhes o mundo. Quem diz o mundo, diz a cidade, o rio, a arte, a cultura, as pessoas ou, mais difícil mas não menos importante, elas próprias. Dar- lhes a conhecer as suas capacidades, as suas potencialidades, as suas paixões.E, apesar de ainda só ter passado um mês, já tenho colhido uns frutos: já pude ver a alegria de uma filha por ter a mãe só para si durante um dia inteiro; já pude partilhar um pôr do sol à beira mar com a menina mais linda do mundo; e os beijinhos, Meu Deus! a melhor coisa são os beijinhos recheados do carinho de um filho.Aí tudo se encaixa e tudo faz sentido!

A saúde/alimentação:

Tenho - me perguntado muito nos últimos tempos quando foi que o homem virou costas aos seus alimentos? Quando foi que a indústria tomou com mão de ferro opressora conta daquilo que comemos? Não é claro para todos que os processos industriais de fabrico, que  vieram substituir as receitas e processos artesanais, têm apenas como objectivo a possibilidade de produzir alimentos de forma massificada. Mas que isso, apesar do argumento do crescente número de população mundial, não visa mais que tornar mais barato o processo produtivo, prolongar prazos de validade de forma  a prolongar também o tempo em que pode ser adquirido pelo consumidor e, logo, aumentar as vendas.
O que não visa certamente é o bem estar do consumidor. Poderá, eventualmente, tornar a sua vida mais simples numa primeira fase: não é um alívio poder chegar a casa, enfiar um bloquinho congelado no microondas e passados 8 minutos podermos deliciar- nos com um saboroso arroz de pato?  A longo prazo poderá não ser tão fácil lidar com as consequências deste tipo de alimentação, mas vá!não sejamos alarmistas! (pelo menos por agora).

Tudo isto começou quando um dia peguei no rótulo do pão que comprava diariamente no supermercado e me deu para ler (quem é o idiota que lê rótulos de pão na fila da caixa???). Um dos ingredientes chama- se "melhorante". DESCULPEM? Melhorante? Isto é defeito de alguém que se licenciou no estudo das palavras mas, se alguma coisa precisa de ser melhorada é porque...não presta? Mas porque raios precisa um simples pão de ser ME-LHO-RA-DO!  Se eles não sabem fazer pão chamo já a minha avó Virgínia (alguém conhece um bom vidente???) , detentora do único forno a lenha que existia no Zambujal, e que dava lições de panificação a todos os habitantes da aldeia! E que daria um bailarico a qualquer padeirito desses que só adiciona a água ao preparado (carregadinho de aditivos) e enfia no forno e que não faz a mínima ideias a que é que cheira uma massa bem lêveda!E sem melhorantes!

Depois deu- me para ver documentários sobre alimentação. Não só o incontornável Food Inc., mas um documentário francês com o sugestivo e inspirador nome Nos enfants nous accuseront ( As nossas crianças irão acusar- nos). Mas que ideia arrepiante! As nossa crianças, no futuro, serem adultos tão doentes que terão de apontar um dedo acusador àqueles que não souberam acautelar o seu futuro. Mas engana- se quem pensa que acontecerá no futuro. Um dos factos apresentados nesse documentário é o de que a nossa geração é a primeira geração de sempre mais doente que a anterior. Ou seja, pela primeira vez, não há um aumento na qualidade de vida dos filhos em relação aos pais. E qualidade de vida não implica melhores carros ou tecnologia mais desenvolvida. Até porque foi o desenvolvimento da tecnologia aplicado à indústria alimentar que nos trouxe aqui. Qualidade de vida no seu sentido mais puro: poder usufruir do bem maior, da Vida.Ao que parece estamos demasiado doentes para o fazer.

Estamos tão desenvolvidos que até já temos "doenças de civilização". Pois...

Penso que a partir de agora, lamento se desapontar os meus imeeensos e fiéis leitores, o meu blogue nunca mais será o mesmo.. e talvez eu também não. Mas certamente será mais verdadeiro... porque terá uma visão!

P.S.: Obrigado leitor do Porto que reclamou ao intermediário pela falta de actualização do blogue. Espero ficar para sempre em dívida consigo. Seria bom sinal!